Agora que a poeira baixou e as celebridades travestidas de jornalistas já ocuparam suas novas cadeiras, quero aqui fazer uma reflexão sobre o rumo que o jornalismo, mais precisamente, o telejornalismo, está tomando.
Só para esclarecer, quando falo em telejornalismo, me refiro ao jornalismo televisivo, da TV, e não ao jornalismo de telefone, praticado pela maioria das redações de jornais e revistas por ai…
Me refiro a dança das cadeiras protagonizada pelas ilustres jornalistas Fátima Bernardes, que largou o JN, e de sua colega de trabalho, Patrícia Poeta, que assumiu seu lugar e não pode mais sorrir tanto como fazia no Fantástico, nem tampouco usar os seus vestidos de gala para exibir suas pernas bronzeadas na telinha.
Sim, audiência masculina desaprova essa nova empreitada da poeta patricinha, afinal, seu maiores dotes profissionais foram cerceados pela bancada nada transparente do JN.
Deixando o veneno de lado, o que me incomodou nessa dança das cadeiras foi o tamanho da repercussão causada na mídia, de jornais a portais, em função de uma ação que não deveria ter se tornado notícia, mas, graças ao título de celebridade que as e os âncoras de TV têm ganhado ultimamente, foi o que fatalmente aconteceu.
Jornalistas já não são mais os emissores da informação e se transformaram em protagonistas da própria notícia. Pior, com isso, deixam de ser, cada vez mais jornalistas e passam a se tornar, cada vez mais, celebridades. Não à toa, Fátima Bernardes e Patrícia Poeta estamparam as principais capas de revistas de cabeleireiro, aquelas que falam de novela, fofocas e da vida como ela não é na última semana.
William Bonner, até tu, Brutus, não aguentou. Depois de conquistar o título de celebridade em função da popularidade de seu perfil no twitter, entregou-se de corpo e alma e está lá, na capa da revista Alfa deste mês, com direito a cara de galã e tudo.
Tudo bem, é claro que sempre existiu o glamour dos âncoras de telejornais e shows da vida, afinal, o jornalista está em evidência e exposto para milhares, quando não milhões, de telespectadores ao vivo e em cores. Aliás, grande parte dos estudantes de jornalismo é atraída pela profissão por conta desse glamour. Mais tarde, descobrem que são poucos os jornalistas que agregam vários zeros na conta corrente.
Voltando ao assunto, tenho consciência de que não deve ser fácil segurar a onda e manter-se na linha com tanto assédio nas ruas, mas convenhamos, é preciso colocar a mão na cabeça e fazer uma reflexão.
Onde estão os âncoras que além de ler a notícia no TP, interpretam cada linha do fato? Onde estão os âncoras que sabem dar a entonação correta para notícias trágicas e garantir leveza a informações não tão pesadas? Onde estão os âncoras formados em jornalismo, que estudaram, se prepararam, acumularam experiência e tornaram-se referência no jornalismo?
Não gosto nada do rumo que o telejornalismo está tomando: transformar jornalistas em celebridades e tentar ser bacana para agradar a todos os tipos de público.
Viva o controle remoto!
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